Conteúdo publicado originalmente em novembro de 2017.
Sem medo de ser feliz, tenho orgulho de dizer que sou brasileiro. Nasci num País extraordinário, com uma diversidade gigante em praticamente todas as áreas e com potenciais incríveis a serem explorados frente aos demais países. Este potencial é tamanho que eu poderia escrever um livro só falando sobre ele.
E justamente por gostar tanto deste País que eu invisto uma grande energia e contribuo com o meu quinhão para melhorar as coisas que ainda não são positivas. Dentre elas, o que me incomoda bastante, talvez pelo fato de eu trabalhar com gestão e com foco na melhoria contínua, é justamente a nossa produtividade e, por consequência, a nossa competitividade.
Mês passado o Fórum Econômico Mundial, em parceria com a nossa Fundação Dom Cabral, divulgou a última versão do Relatório Global de Competitividade e o ranking que avalia 137 países neste benchmarking. Infelizmente para nós, o Brasil ocupa a vergonhosa octogésima posição. Isso mesmo! Não estamos nem na parte média da tabela.
É de relatórios como este que derivam aquelas conclusões que apontam que um trabalhador americano rende o equivalente a quatro trabalhadores brasileiros. De bate pronto a gente não consegue imaginar isso. Nosso trabalhador é bastante esforçado e trabalha muito. Não é questão de corpo mole. Somos um povo bastante trabalhador. O ponto focal do problema é a qualidade do resultado. Na maioria das vezes, nossos trabalhadores desempenham funções sem foco, processo, metodologia, indicadores de desempenho e sem uma liderança capaz de inspirar maior comprometimento e produtividade.
E todas essas questões dizem respeito ao que eu chamo de “porteira pra dentro”. Ou seja, são aspectos e ações que não dependem praticamente de mais ninguém a não ser dos gestores das empresas. Porém, quando vamos para as nossas características da “porteira pra fora”, aí o panorama fica ainda mais desafiador. Se observarmos as nossas leis, especialmente as trabalhistas, nossa educação, infraestrutura e carga tributária, aí conseguimos entender o porquê de estarmos numa posição pífia no quesito competividade comparado as demais países.
Mesmo assim, quero trazer um alento e falar de exemplos. Conheço centenas empresas que não aparecem nesta posição e posso garantir que se elas representassem o nosso País, estaríamos brigando com os melhores, fazendo muito bonito. O que vejo em comum entre essas empresas super competitivas e sustentáveis é que o processo de gestão está no centro das estratégias e há muita dedicação de tempo, investimento e energia para torna-lo mais eficaz.
Essas empresas são campeãs no combate ao trabalho não remunerado – um dos maiores desperdícios de uma companhia. Eu chamo de trabalho não remunerado todo aquele trabalho que não produz valor para o cliente ou para a empresa. Vou usar o sistema bancário para exemplificar este conceito. Há um tempo, pouco antes da revolução tecnológica, precisávamos ir fisicamente às agências bancárias e tínhamos que ficar muito tempo em pé nas filas à espera de atendimento. Esta demora, que em muitos casos chegava a passar de uma hora, é trabalho não remunerado. Enquanto o cliente está na fila, o banco não está gerando valor algum para o seu cliente e nem para ele mesmo.
Trazendo para a nossa realidade do agro e mais especificamente para a suinocultura, com muita frequência consigo perceber uma série de exemplo de trabalhos não remunerados na produção das granjas. Cobertura de repetição de cio, diarreia na maternidade, compostagem de animais acima do volume admissível, pulsos extras de medicamento… Enfim, todo trabalho realizado que não gera valor para granja, é desperdício.
Além dos exemplos acima, quais outros você observa? E mais importante, quais você não está enxergando? Por isso, quero deixar aqui o convite, ou a provocação, para que possamos revisar os nossos processos, desde o recebimento da leitoa até a saída dos animais para o abate, e descobrir quais são as oportunidades de combate ao trabalho não remunerado que podemos capturar. Este é um simples exercício, mas que traz um grande resultado. Experimente. Você pode se surpreender.
Fonte
Artigo extraído da Revista Feed&Food, escrito por Everton Gubert, fundador e diretor da área de Inovação da Agriness